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Cultura paranaense movimenta mostra de artesanato no Rio de Janeiro

Semana Paraná terá oficinas de gastronomia, artesanato e contação de histórias com mate
Por ASN Paraná
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A economia criativa, o talento dos artesãos e a diversidade cultural do Paraná seguem em destaque na exposição “Sinta o Sul – Bioma Mata Atlântica”, realizada no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), no Rio de Janeiro. O espaço já conta com mais de 600 peças paranaenses e, durante os dias 31 de julho e 2 de agosto, recebe a Semana Paraná.

Uma das atividades será “Sinta o Sul e Suas Histórias”, com rodas de conversa para apresentação das riquezas das lendas e tradições populares do Estado. Serão duas sessões, na quinta (31), às 14h, e na sexta (1°), às 15h30, que reunirão oralidade, música e teatro para narrar histórias como a da Gralha-Azul, a Lenda das Encantadas e a Lenda da Erva-Mate. A proposta é compartilhar o tradicional chimarrão, fortalecendo o sentimento de pertencimento e a conexão com a cultura sulista.

Coleção Fungus reflete a percepção de Marcel Fernandes sobre as matas da região de Antonina. Foto: divulgação.

Outra ação especial é a “Receitas com Origem: do Paraná para o seu prato”, que utilizará produtos reconhecidos culturalmente no Estado, que já possuem (como a broa de centeio de Curitiba) ou estão em busca de uma Indicação Geográfica (como a ponkan de Cerro Azul). A ação ocorre na quinta-feira (31) e tem como proposta proporcionar uma imersão nos sabores paranaenses para estudantes e profissionais da gastronomia.

Outra atividade que integra a Semana Paraná é a oficina de artesanato “Fios da Floresta: introdução ao Punch Needle”, com a artista têxtil Patrícia Malenski Matosita (Kotori). A ideia é proporcionar um contato o Punch Needle, técnica de artesanato que utiliza agulha oca para criar relevos em tecidos.

As sessões acontecem na sexta (1°), às 14h, e no sábado (2), às 10h e às 14h30, e demonstram os saberes manuais e o artesanato como expressão cultural e sensível do território paranaense.

A Semana Paraná no CRAB reforça o compromisso de divulgar e preservar a diversidade cultural do Estado, levando ao público carioca um pouco das tradições que tornam o Paraná singular no cenário nacional. Do início da mostra, em 15 de maio até 30 de junho, passaram mais de 4.600 pessoas pelo espaço.

“Queremos mostrar para os cariocas e turistas a identidade cultural do nosso Paraná. Por exemplo, a história do nosso mate, das tradições, das formas de consumo. Escolhemos esses temas estrategicamente para evidenciar a cultura, história, saberes e, em especial, o trabalho dos nossos artesãos”, comenta Patricia Albanez, coordenadora de Turismo, Economia Criativa e Artesanato do Sebrae/PR.

Negócios criativos

São 397 m² de exposição, com 621 peças artesanais, que envolvem 170 artesãos, de 23 unidades produtivas de artesanato. Ao todo foram comercializadas 200 peças até 15 de julho.

São peças em cerâmica, madeira, fibras e materiais recicláveis da região. Além do artesanato, a exposição lança o olhar para questões como sustentabilidade, educação, inclusão socioprodutiva, indicação geográfica e turismo.

A mostra Sinta o Sul – Bioma Mata Atlântica segue até 15 outubro e é resultado de colaboração das unidades do Sebrae no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, com curadoria CRAB. São parceiros da iniciativa a Fecomércio PR, Sesc, Senac e as secretarias estaduais da Mulher, Igualdade Racial e Pessoa Idosa (Semipi), do Turismo (Setu), da Cultura (Seec).

De litoral para litoral

A história de Marcel Fernandes com a cerâmica começa em 2017, após a saída de um emprego de 14 anos. Nascido em Antonina, o então chefe administrativo encontrou no artesanato uma nova atividade, que lhe permitiu conhecer especialistas em design autoral e o levou a se formalizar como microempreendedor individual (MEI) na área.

Marcel (esq.) é um dos artesãos que leva suas produções para um novo público no Rio de Janeiro. Foto: divulgação.

A coleção Fungus, que Marcel apresenta na mostra, traz as formas orgânicas da floresta de Mata Atlântica.

“Ela nasceu do meu desejo de trazer, para dentro dos lares, a beleza silenciosa da floresta, com suas texturas, organismos e ciclos de transformação”, afirma.

A exposição, segundo ele, é uma grande alegria, pois lhe deu a oportunidade de representar Antonina e o Paraná.

“Representar minha cidade e meu estado por meio de arte que brota das minhas mãos é uma realização profunda. Os frutos desta participação já estão sendo colhidos: graças à oportunidade proporcionada pelo Sebrae, pude conversar com gestores sobre estratégias de negócio e ainda fechar parceria com lojas do Rio de Janeiro, para a comercialização de algumas obras”, completa o artista.

Cooperativismo
Dirceia é professora aposentada e há mais de 20 anos iniciou com o artesanato, hoje se dedica exclusivamente aos trabalhos manuais, em Foz do Iguaçu. Foto: arquivo pessoal. 

Do outro lado do Estado, em Foz do Iguaçu, a artesã Dirceia Braga também conta com obras na mostra Sinta o Sul. Aposentada das salas de aula, tem o artesanato como uma contribuição na fonte de renda familiar.

“Estou muito feliz com a oportunidade de apresentar meu trabalho, e, através dele, dar visibilidade a nossas aves, à riqueza de nossa fauna. Estou expondo xícaras de cerâmica com pinturas aquarela com o tema pássaros, além de colares de pássaros desenvolvidos com cerâmica de alta temperatura e crochê em fios de cobre reciclados”, celebra.

Dirceia teve sua vida transformada pelo artesanato em cerâmica há 24 anos. Tudo começou após participar do projeto Ñandeva – Parque Tecnológico Itaipu/Sebrae, um projeto trinacional focado no desenvolvimento do artesanato na tríplice fronteira (Brasil, Paraguai e Argentina). Então, iniciou a comercialização de peças com o apoio da loja Coart – Cooperativa de Artesanato de Foz do Iguaçu.

Artesã leva cerâmicas inspiradas na fauna brasileira. Foto: arquivo pessoal.

“A partir do momento em que me tornei cooperada, venho buscando aprimorar meu trabalho. Hoje tenho meu ateliê e há sete anos sou professora de cerâmica. Desde 2016, me expresso artisticamente através da cerâmica, o que resultou na participação em diversas exposições coletivas, como a ‘Revoadas de pássaros azuis’ e a ‘Panapaná’, nos jardins do MON em Curitiba. Em 2025, já participei de outras exposições em São Paulo e em Curitiba”, enumera.

O artesão Antônio Cielo de Pol, de Curitiba, é outro representante paranaense na mostra. Com mais de cinco décadas de tradição familiar, Antônio enviou para a mostra quatro peças esculpidas em madeira, entre elas, pássaros ornamentais e um tradicional pião de girar com as mãos.

Na capital, ele comercializa suas criações na Feira do Largo da Ordem e em uma loja da Prefeitura. O trabalho da família se destaca pelo uso de madeira residual, oriunda de podas de árvores urbanas ou descartadas em caçambas.

As peças, segundo ele, carregam uma história que começou com o pai do artesão e, até hoje, preservam valores como sustentabilidade, reaproveitamento e cuidado com os detalhes.

Antônio mantém a tradição familiar de mais de cinco décadas com o artesanato. Foto: divulgação. 

“A mostra nos dá mais visibilidade e também gera um bom resultado de vendas. Alguns produtos que estavam expostos foram encaminhados também para uma loja no Rio de Janeiro”, conta Antônio.

Guardiã das araucárias

A artesã Vanderli dos Santos Bachinski, de Ponta Grossa, nos Campos Gerais, encontrou na palha de milho não apenas uma matéria-prima, mas um caminho de identidade e sustento. Trabalhando com artesanato desde o ano 2000, ela levou uma gralha azul em palha de milho. A ave, símbolo oficial do Paraná é também personagem de lendas e guardiã das araucárias. A peça é acompanhada por um pequeno pergaminho com a lenda da gralha azul, unindo história e artesanato em um só objeto.

“Quis criar um produto que representasse Ponta Grossa e o Paraná. A gralha azul é isso: símbolo, história e natureza. E a palha, que é patrimônio imaterial de Ponta Grossa, é o que me conecta com esse lado mais rústico. É muito importante ter esse espaço na mostra. A gente trabalha muito, muitas vezes no silêncio, dentro de casa, e ver nosso artesanato ganhando visibilidade em outro estado, num espaço tão bonito, é gratificante. É abrir portas”, afirma.

Vanderli preparou para a mostra a Gralha Azul em palha. Foto: divulgação.

A história de Vanderli com o artesanato vem desde a infância, mas depois ela começou a se aprofundar nas técnicas, conhecer novas possibilidades e, principalmente, a se especializar na arte com fibras naturais. Hoje, Vanderli integra o coletivo Palha de Ponta, que reúne artesãos especializados em peças feitas a partir da palha de milho, criando produtos únicos que carregam a identidade local. A palha é colhida, preparada e transformada em arte.

“Me encontrei na palha. É um material simples, mas que exige cuidado, paciência e sensibilidade. E ela combina com madeira, sisal, crochê. Fui agregando tudo que já gostava de fazer”, diz a artesã.

SERVIÇO

Sinta o Sul – Bioma Mata Atlântica: Semana Paraná

Data: 31 de julho a 2 de agosto

Endereço: Praça Tiradentes 69/71, Centro do Rio de Janeiro.

Entrada: gratuita, mediante documento com foto.

Funcionamento geral: terça-feira a sábado, das 10h às 17h

Mais informações: https://crab.sebrae.com.br/programacao/sinta-o-sul-exposicao-crab/

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