Em Arapongas, no Norte do Paraná, produtores de abacate iniciaram nesta semana a mobilização para trabalhar a Indicação Geográfica (IG) para a fruta produzida na região. Em reunião realizada na Prefeitura, na segunda-feira (30), 35 agricultores receberam instruções sobre o processo para solicitar a certificação junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A ação conta com apoio do Sebrae/PR, Prefeitura de Arapongas e Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR).

A Indicação Geográfica reconhece a qualidade de produtos característicos do seu local de origem, atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de conferir destaque no mercado nacional e mundial. Atualmente, o Estado possui 20 produtos com IG, como goiaba de Carlópolis, queijos da Colônia de Witmarsum, café de Mandaguari, mel de Ortigueira, barreado do Litoral, bala de banana de Antonina e erva-mate de São Mateus do Sul.
Primeiro passo
Agricultor há mais de quatro décadas, Dirceu Vitorino da Rocha conta que a palestra foi importante para entender o potencial do abacate araponguense. Produtor familiar, afirma que cultiva o abacate há 16 anos e conheceu o potencial da IG para a produção.
“O abacate de Arapongas já é reconhecido pela sua qualidade, mas, eu mesmo não sabia que a IG poderia contribuir para valorizar o produto e melhorar os ganhos dos produtores. Com o registro podemos ter acesso a novos mercados e negociar de forma mais justa. Além disso, o consumidor passa a ter mais segurança sobre a origem e a qualidade da fruta. Estou muito animado para trabalhar, junto com os outros produtores da região, pela conquista dessa certificação”, avalia Dirceu.

O técnico em agropecuária do IDR-PR, Peter van Engelenhoven, lembra que a organização dos produtores em cooperativas, associações ou sindicatos é o primeiro passo no processo de obtenção de uma IG. “Por isso, junto com o Sebrae e a Prefeitura, promovemos esse encontro dos agricultores da região para identificar os interessados, organizar o grupo e dar suporte para que a IG seja obtida”, salienta Peter.
O processo para obtenção da IG será viabilizado com subsídio do Sebrae/PR e recursos da Prefeitura de Arapongas, além do apoio do IDR-Paraná para capacitações e estudos técnicos. A expectativa é que o processo entre a organização dos produtores e a obtenção efetiva da IG deva durar um ano.
A consultora do Sebrae/PR, Cinara Tozatti, reforça que a instituição possui um programa exclusivo de apoio às Indicações Geográficas e que também identificou o potencial para o abacate de Arapongas. Desde que foi criado, em 2003, o programa de apoio do Sebrae já garantiu o suporte às 20 IGs do Estado. A mais recente certificação foi obtida pelo café de Mandaguari.
Abacate na história de Arapongas
Além das especificações técnicas exigidas pelo INPI, Cinara Tozatti lembra que, para se obter uma Indicação Geográfica, o produto precisa, também, ter um vínculo com a história do local.

“Um dos critérios para a obtenção da IG é que, além da qualidade oferecida, o produto tenha características que o liguem à história de um determinado território e do seu povo. O abacate é importante para a economia de Arapongas, mas também é um símbolo de empreendedorismo e resiliência dos moradores da região”, salienta Cinara.
As primeiras mudas foram plantadas em 1955, na Colônia Esperança, fundada por imigrantes japoneses vindos de Promissão (SP), em busca de terras mais férteis e novas oportunidades. Após a Geada Negra, em 1975, o cultivo da fruta tropical se tornou uma nova opção para os cafeicultores que perderam tudo com o fenômeno climático que extinguiu a maior parte das fazendas de café do Norte do Paraná.
Em 1979, a cidade voltou a registrar uma situação histórica. Na Colônia Esperança, o agricultor Miguel Makiyama criou uma variedade de abacate, o Margarida, atestada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A espécie foi batizada em homenagem à mulher de Miguel, Margarida Makiyama.

Essa variedade se diferencia pela textura rugosa e firme, formato esferoide, maior tempo de maturação e maior resistência mecânica em relação aos abacates de casca lisa, comumente encontrados no Brasil.
Famoso por sua resistência natural às pragas e doenças, o abacate Margarida é também é reconhecido por sua qualidade e sabor, o que o torna popular entre os consumidores. Além disso, por conta de suas características de resistência ao manuseio e viagens de longa distância, é uma das variedades brasileiras mais comercializadas para o exterior, sendo a Europa o principal destino.
Variedades em Arapongas
Além do Margarida, as espécies Fortuna e Quintal também são destaque na produção de abacate em Arapongas. Enquanto a safra do Margarida ocorre entre maio e outubro, as variedades Fortuna e Quintal podem ser colhidas praticamente em todo o ano. De acordo com Secretaria Municipal de Agricultura, Serviços Públicos e Meio Ambiente de Arapongas (Seaspma), outras variedades como Breda, Hass e Ouro Verde também são encontradas na região, embora em menor escala.
75% da produção do Estado
O Brasil já ocupa a 6ª posição entre os produtores mundiais de abacate. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a área total destinada ao cultivo de abacate no País passou de 10,9 mil hectares, em 2016, para 16,4 mil hectares, em 2020. A estimativa é que 98% de toda a produção brasileira seja destinada às exportações.
A área de cultivo de abacate no Paraná também aumentou. Nos últimos dez anos, a área cresceu 19% e a produtividade saltou 34,1%. Hoje o Estado é o 4º maior produtor da fruta no Brasil. Em 2024, a região norte do Paraná, onde está localizada a cidade de Arapongas, foi responsável por 75% da produção estadual, com 80 mil toneladas de abacate.

Potencial transformador
A consultora do Sebrae/PR, Cinara Tozatti, salienta que, além da garantia da qualidade do produto, aumento do potencial de produção e reconhecimento nos mercados interno e externo, a obtenção de um selo de Indicação Geográfica tem potencial transformador para região reconhecida, já que agrega valor à cadeia produtiva e, também, atrai turistas em busca de experiências autênticas.
Cinara lembra que, em Arapongas, a Colônia Esperança, onde está concentrada a maior parte da produção de abacate da região, já é um destino turístico conhecido.
“A arquitetura da igreja local, o Mosteiro Sagrado Coração de Jesus e a beleza da colônia atraem centenas de pessoas para sessões de fotos no local. Em agosto, existe a Festa do Ovo e do Abacate, que está no calendário turístico da cidade. Com a IG, este potencial turístico tende a se consolidar ainda mais, beneficiando não só os produtores certificados, mas toda a comunidade e a economia local”, destaca a consultora.