Por ter fama e fazer parte da cultura e história de Curitiba, a carne de onça recebeu o registro de Indicação Geográfica (IG) do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), na modalidade Indicação de Procedência (IP). O reconhecimento foi anunciado nesta terça-feira (20). A carne de onça é um prato típico da chamada “culinária de boteco” de Curitiba, servido sobre uma fatia de broa de centeio, coberta com carne moída bovina fresca, cebola branca e cebolinha verde picadas, com temperos, regado com azeite extravirgem, sal e pimenta a gosto. O pedido de reconhecimento foi protocolado em novembro de 2023.
Atualmente, mais de 200 restaurantes curitibanos, conforme a Associação Amigos da Onça (AAONÇA), oferecem a carne de onça no cardápio. A ação do Sebrae/PR em parceria com a Associação começou em janeiro de 2023, seguindo o protocolo e a metodologia do INPI.
A consultora do Sebrae/PR, Márcia Giubertoni, destacou o envolvimento dos empresários na busca pela Indicação Geográfica da Carne de Onça de Curitiba. Ela enfatizou ainda o trabalho realizado pelo Sebrae/PR junto aos empresários, abordando aspectos como associativismo, liderança, além da caracterização histórica e da organização de documentação para a proteção do produto.
“Esse é o resultado de esforço coletivo entre todos os envolvidos desse processo, que foi rápido. Em menos de dois anos o pedido foi protocolado e reconhecido pelo INPI por conta de toda a sua notoriedade. A receita, inclusive, pode ter duas IG: a carne de onça e a broa de centeio de Curitiba”, afirmou. Neste mês de maio, Márcia lembra que o Paraná conquistou o registro de duas IG, a carne de onça de Curitiba e o urucum de Paranacity, no noroeste do Estado.
A broa de centeio de Curitiba foi reconhecida pelo INPI em janeiro de 2025 e pode ser um dos ingredientes principais da carne de onça. O presidente da Associação Amigos da Onça e coordenador do Fórum Origens Paraná, Sérgio Luiz Medeiros, comemorou a conquista.
“A carne de onça é uma das comidas típicas de Curitiba, reconhecida como Patrimônio Cultural da cidade desde 2016. Com a conquista da Indicação Geográfica, sua relevância aumenta. Este reconhecimento é uma vitória significativa para os setores gastronômico e cultural de Curitiba. A proteção do prato é reforçada e espera-se que os bares e restaurantes experimentem um aumento nas vendas da carne de onça, contribuindo para impulsionar um setor que gera empregos e renda na cidade”, discorreu Sérgio.

Dante Luiz Manfron, proprietário do tradicional Bar do Dante, conta que servia o prato apenas uma vez por semana. No entanto, a procura aumentou e, nos últimos meses, a iguaria passou a fazer parte do cardápio diário.
“Faz uns 25 anos que a gente serve carne de onça aqui. Era servida, até pouco tempo, só nas quintas-feiras. Mas, o pessoal começou a pedir cada vez mais. Colocamos no cardápio todo dia e, olha, o pessoal está gostando. Vendemos todos os dias agora”, contou o proprietário.
Para Délio Canabrava, proprietário do CanaBenta, outro tradicional bar de Curitiba que serve a carne de onça, o prato é importante para a culinária curitibana.
“É um dos pratos que mais vendem, está desde o começo e é o mais característico de Curitiba. Como recebemos muitos turistas, ele é bastante solicitado, principalmente porque o nome chama atenção. Estou muito feliz e orgulhoso de Curitiba, é um prato saudável inclusive”, disse.
Délio, que também é proprietário de restaurante, pretende incluir a iguaria também no restaurante.
“É o prato mais conhecido e mais famoso, tipicamente de Curitiba. A gente tem outros pratos da culinária italiana e alemã, por exemplo, mas a carne de onça, eu acho que é o mais famoso”, acrescentou.

A história
A carne de onça é uma iguaria típica da culinária curitibana, cuja origem remonta à década de 1940. A história começa com Ronaldo Abrão, conhecido como “Ligeirinho”, jogador do Britânia, time de futebol cujo diretor, Cristiano Schmidt, era dono do bar “Buraco do Tatu” na Marechal Deodoro, em Curitiba. Durante os momentos de celebração das vitórias do Britânia, Schmidt preparava uma mistura peculiar: carne crua sobre fatias de broa, servida aos jogadores.
O apelido “Tatu” dado a Cristiano Schmidt deu origem ao nome do bar. Um dia, o goleiro do time, apelidado de “Duaia”, expressou sua insatisfação com a comida, dizendo que a carne era tão bruta que nem uma onça comeria. Foi assim que surgiu o nome “carne de onça” para esse prato peculiar.
Com o tempo, outros bares em Curitiba começaram a servir a iguaria e, na década de 1950, a carne de onça também era preparada na Sociedade Concórdia pela família Garmater, que era dona de um grande frigorífico.
Nos anos 1960, o Bar do Onha, inicialmente na Rua Riachuelo e depois no Bacacheri, tornou-se famoso por servir grandes quantidades de carne de onça, tornando-se uma referência na cidade, embora tenha fechado anos mais tarde. Assim, a carne de onça se tornou um prato icônico da culinária curitibana, com uma história que reflete a tradição e a cultura da região.
De acordo com o INPI, o Caderno de Especificações Técnicas da Indicação de Procedência prevê três opções preparo e modo de servir:
1.ª opção: colocação da carne sobre a fatia de broa coberta com cebola branca e cebolinha verde, regada com azeite e temperada toda a parte superior com sal e pimenta.
2.ª opção: preparação da carne misturada ao azeite, ao sal e à pimenta, apenas no momento de servir sobre a fatia de broa, para não interferir na coloração da carne. Incluída a cobertura com cebola branca e cebolinha verde e regada com azeite.
3.ª opção: preparação da carne misturada ao azeite, ao sal e à pimenta, apenas no momento de servir sobre a fatia de broa, para não interferir na coloração da carne. Os demais ingredientes, cebola branca, cebolinha verde e azeite, são disponibilizados separados para o cliente montar a seu gosto.
Indicações Geográficas
O Paraná é o segundo estado brasileiro com a maior quantidade de IG, contabilizando 18. Além da carne de onça de Curitiba, são Indicações Geográficas: o urucum de Paranacity, cracóvia de Prudentópolis; mel de Ortigueira; queijos coloniais de Witmarsum; cachaça e aguardente de Morretes; melado de Capanema; cafés especiais do Norte Pioneiro; morango do Norte Pioneiro; vinhos de Bituruna; goiaba de Carlópolis; mel do Oeste do Paraná; barreado do Litoral do Paraná; bala de banana de Antonina; erva-mate São Matheus; camomila de Mandirituba; uvas finas de Marialva e broas de centeio de Curitiba.
Além desses 18 reconhecidos, há ainda uma Indicação Geográfica concedida a Santa Catarina, que envolve também municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul: o mel de melato da bracatinga do Planalto Sul do Brasil.
O Estado ainda possui 11 produtos com a IG depositada, mas ainda em processo de análise no INPI: o mel de Capanema; pão no bafo de Palmeira; tortas de Carambeí; mel de Prudentópolis; queijos do Sudoeste do Paraná; café de Mandaguari, ponkan de Cerro Azul; ovinos e caprinos da Cantuquiriguaçu; ginseng de Querência do Norte; café da serra de Apucarana e ostras do Cabaraquara.