
Com uma área de aproximadamente 17 mil hectares e produção de 31 mil toneladas de café, o norte pioneiro do Paraná, já reconhecido pela produção de grãos de qualidade, que são premiados e apreciados por todo o mundo, quer ampliar o número de propriedades aptas a utilizarem selo de Indicação Geográfica (IG) por Indicação de Procedência, conquistada pela região com o apoio de instituições como o Sebrae/PR, em 2012. A certificação abrange 45 municípios, onde se concentram cerca de 4,8 mil cafeicultores, segundo a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab).
Para apresentar a oportunidade de utilização da IG, o Sebrae/PR tem promovido palestras pela região evidenciando as vantagens de vender cafés especiais com a certificação, entre elas, o aumento do valor agregado do produto e da possibilidade de exportação. O trabalho, conduzido em parceria com a Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (ACENPP), tem divulgado, também, a importância do associativismo e de contar com uma rede de apoio para melhorias nas propriedades, participação em feiras e eventos de relevância nacional e internacional, e acesso a novos mercados.
“Existe a possibilidade de aumentar o valor de venda do grão por conta da IG. O selo diferencia o produto e agrega valor, porque existe uma história e um longo trabalho por trás da certificação, e a IG de cafés especiais do norte pioneiro está mais valorizada. Até então, os produtores eram remunerados pelos cafés especiais, não necessariamente pela certificação”, explica o consultor do Sebrae/PR, Odemir Capello.
Ele antecipa que, uma das novidades do Concurso de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná de 2025, que será realizado durante a Ficafé e Feira Sabores, de 21 a 23 de outubro, em Jacarezinho, será a inclusão de uma nova categoria na premiação, a de “Café com IG”, para incentivar os cafeicultores a aderirem ao selo. Os cafés especiais do norte pioneiro do Paraná foram o primeiro produto a conquistar uma IG no Estado. O Paraná é o segundo estado brasileiro com a maior quantidade de IG, com 18 registros, atualmente.
Associação oferece apoio e visibilidade
A ACENPP é quem promove e certifica as propriedades para o uso da IG dos cafés especiais no norte pioneiro. A gestão atual está nas mãos do cafeicultor Jonas Aparecido da Silva, que tem como objetivo dar continuidade ao trabalho que já vinha sendo realizado pelo ex-presidente Paulo Frasquetti, de atrair mais produtores para associação. Além de prospectar mais associados, Silva conta que a ACENPP intensificou sua participação em feiras nacionais e internacionais – só em 2024, foram seis, sendo uma delas no Chile, para apresentar cafés verdes e industrializados com IG.
“Novos associados não têm custo para entrar. Para poder usar o selo, os únicos requisitos são que a propriedade esteja social, econômica e ambientalmente correta, e que siga o caderno de campo com o acompanhamento de engenheiro agrônomo”, convida Jonas.

Participação feminina
A meta é aumentar a participação feminina e valorizar o trabalho que elas realizam nas propriedades, já que a maioria das cafeicultoras do norte pioneiro possuem suas marcas próprias de café.
De acordo com o presidente da ACENPP, entre as vantagens de ser associado estão a participação em feiras e eventos, apoio com o marketing dos produtos e na adequação da propriedade para o uso da IG, que pode ser pleiteada a um custo mais acessível. Ele lembra que todo ano as propriedades certificadas são auditadas para que possam receber a renovação, e a quantidade de selos é calculada de acordo com o lote.
A cafeicultora do Matão, em Tomazina, Maristela de Fátima da Silva Souza, é uma das mais novas associadas e está usando a IG desde fevereiro deste ano. Ela produz café especial desde 2015, mas nunca havia usado a certificação. Para Maristela, a principal vantagem é a agregação de valor ao produto, especialmente ao pacote de café torrado. Fato que ela pôde comprovar durante sua participação na ExpoLondrina deste ano, quando levou a sua marca de café com o selo e, apesar de oferecer o produto por um valor mais alto que os demais em exposição, vendeu os 40 pacotes em quatro dias.
“Desde que começamos a usar o selo, o negócio deslanchou. A cada mês, aumentam as encomendas de café torrado. A IG é muito importante, porque as pessoas compram o produto sem medo, sabem que é de qualidade”, comemora.

Aumento da produção
Também do Matão, o cafeicultor e diretor financeiro da ACENPP, Agnaldo Peres, é associado desde o início e acompanhou todo o trabalho de regularização das propriedades do zero. Ele conta que, no sítio de 10 hectares, saiu de uma produção média de 20 para 35 sacas bianuais por hectare.
“Em uma década, aumentamos em quase 50% a produção dentro da mesma área. Na minha propriedade, ano passado, 70% da produção foi de cafés especiais”, conta.
O café é a principal renda da propriedade de Peres. Na avaliação dele, se não fosse essa mudança de cultura na produção, não estaria na atividade até hoje. O produtor diz que sua família está há mais de cem anos produzindo café no Brasil e que desejava fazer algo diferente dos avós.
“Quando conheci o projeto [dos Cafés Especiais] me apaixonei e hoje sou um grande incentivador daqueles que querem fazer algo bom e sério”, destaca.
O norte pioneiro do Paraná tem grande potencial para a produção de cafés especiais em função dos solos de origem vulcânica e do clima subtropical, características que fazem os cafés da região apresentarem atributos únicos, como alta doçura, perfeito equilíbrio entre uma acidez cítrica e o corpo cremoso. A qualidade é comprovada pelas premiações de concursos nacionais e internacionais.