Quem planta urucum em Paranacity e em Cruzeiro do Sul, no noroeste do Paraná, está feliz da vida. As condições climáticas somadas aos cuidados no manejo favoreceram a cultura, que promete safra recorde este ano. Os produtores esperam colher até 1.500 quilos da semente por hectare, produção que nos dois últimos anos girou em torno de 500 quilos.
O urucuzeiro é de origem amazônica e se adaptou bem nos municípios do noroeste do Paraná, onde foi introduzido na década de 1980. Seus frutos são cápsulas de espinhos maleáveis onde ficam as sementes, cujo pigmento avermelhado é usado na culinária como condimento conhecido como colorau e como corante em diversas indústrias, a exemplo das alimentícias, têxteis, cosméticas, químicas e outras.
Atualmente, a maioria dos agricultores planta a variedade piave tradicional, árvore de maior porte, e a piave anão que, por ser mais baixa, facilita a colheita. Jair May, que cultiva o fruto desde 1993, planta os dois tipos em uma área de cerca de sete hectares. Ele começou a colher a piave anão e começará a piave tradicional na metade de julho.
“Este ano está excelente. Vamos colher em torno de 1.500 quilos de semente por hectare. Nos anos anteriores tivemos seca, mas neste ano tudo foi favorável. O preço também está bom, na média de 15 reais o quilo da semente. É uma renda que apoia nossa família o ano todo”, diz May, que também cria vacas de leite.
O urucuzeiro produz uma vez por ano. A colheita começa em março com algumas produções precoces, tem seu auge em junho e julho e termina em setembro.
José Carlos Gusman aprendeu a cultivar o urucum com pai e, hoje, comanda a produção da família, em uma área de cinco hectares. Pela facilidade na hora da colheita, prioriza a variedade piave anão, mas também possui pés de piave tradicional. Ele torce para que o preço se mantenha até o fim da safra.
“Estamos produzindo bastante, choveu na hora certa, não tivemos nem muita chuva nem muito sol. Colhi um pouco em março e nas próximas semanas começo a colheita maior. Esperamos que o preço não siga o embalo das commodities, em queda. De qualquer forma, pela produção que tivemos, este será um ano satisfatório”, comenta Gusman, que também trabalha com pecuária leiteira.
Gusman ressalta que o urucum é uma boa opção para o agricultor familiar a garante a permanência das famílias no campo.
“São áreas de no máximo dez hectares. Isso inviabiliza maquinário grande de soja e de milho. Por outro lado, nosso solo é arenoso, temos muita luminosidade, calor adequado para produzir urucum e a colheita é semimecanizada”, detalha Gusman.
A produção geral será estimada pelos municípios em outubro, após o término da safra.
“Dependendo dos tratos culturais e das condições do clima, os produtores vão colher de 800 a 1.500 quilos de semente por hectare, o que é bastante. Nos últimos dois anos, tivemos seca e o pessoal não investiu tanto em adubação. Como o preço está atrativo, estão investindo. As lavouras estão bem viçosas”, analisa o agrônomo da prefeitura de Paranacity, André Luiz Moron.
Valorização com a IG
Os produtores têm trabalhado, desde 2022, para conquistar a Indicação Geográfica (IG) para o urucum. Segundo Moron, esse movimento tem provocado melhorias no manejo.
“O pessoal está substituindo lavouras antigas por novas, investindo em cultivares mais produtivos, em mais adubação”, observa Moron.
Sob o signo distintivo “Urucum de Paranacity”, os produtores de Paranacity, a capital do urucum do Paraná, e de Cruzeiro do Sul, estão mobilizados para conquistar a primeira IG do Brasil para o urucum. O grupo está prestes a protocolar a solicitação no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), órgão que concede o reconhecimento.
A intenção é elevar a competitividade do produto com a obtenção da IG por Indicação de Procedência (IP). Os municípios são conhecidos pelo cultivo do urucum, concentrando 600 hectares de urucuzeiros. Os pés entregam sementes com alto teor de bixina, o pigmento avermelhado das sementes. Produções comuns possuem até 3% de bixina, enquanto na região composta por Paranacity e Cruzeiro do Sul, o teor da substância chega a 6%.
O trabalho pelo reconhecimento vem sendo realizado pelos produtores junto às prefeituras de Paranacity e de Cruzeiro do Sul, ao Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR) e ao Sebrae/PR.
“O Sebrae dá muita importância aos movimentos pela conquista da Indicação Geográfica porque o reconhecimento agrega valor aos produtos, ajuda a fortalecer a agricultura familiar, melhora a renda dos produtores e, por consequência, provoca desenvolvimento local e regional. A IG reposiciona a localidade como referência e abre um caminho de prosperidade”, comenta o consultor do Sebrae/PR, Luiz Carlos da Silva.