Duas empreendedoras das regiões norte e norte pioneiro do Paraná se sobressaíram
na etapa estadual do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios (PSMN) 2023. Em comum,
trajetórias inspiradoras e de superação, que revelam que a dedicação e a resiliência
diante dos desafios são características fundamentais para gerir um negócio de sucesso.
De Londrina, a farmacêutica, doutora em biotecnologia e ex-professora do ensino
técnico e da graduação, Ana Elisa Stefani Vercelheze, que ficou com o primeiro lugar
na categoria Microempreendedora Individual (MEI), apostou em uma transição de
carreira para empreender na área da alimentação vegana e saudável após o
nascimento do filho, que foi diagnosticado, ainda recém-nascido, com alergia à
proteína do leite de vaca (APLV).
A dificuldade de encontrar alimentos sem leite e sem contaminação cruzada no
mercado acendeu o alerta para a oportunidade de negócio. Ana iniciou a empresa com
duas sócias e dois produtos, os pães sem queijo. Mas, a sociedade não deu certo e, em
um ano, ela contabilizou um prejuízo financeiro de aproximadamente R$ 300 mil.
“Perdi tudo. Peguei R$ 30 mil emprestados e recomecei do zero. Tive que migrar para
outro endereço e montar uma nova indústria. Ficamos seis meses parados e sem
ganhar dinheiro, gastando com reformas em plena pandemia, quando tudo subiu.
Foram várias as dificuldades no caminho, que me impediram de crescer mais rápido”,
conta.
Hoje, a Ana Vegana caminha para o seu terceiro ano no mercado, com sete produtos
no portfólio. São caldos e sopas feitos com legumes desidratados e temperos naturais,
pães sem queijo congelados à base de batata, e mix saudáveis, como o grãomelete,
produzido com farinha de grão de bico e levedura nutricional. Uma linha de risotos
está prestes a ser lançada. Presentes nos mercados de Londrina, os itens começam a
chegar a Maringá e a Campinas (SP).
“Nosso diferencial é que, além de serem saudáveis e equacionalmente nutricionais, os
produtos não são só para veganos, mas para quem possui restrições ou alergias
alimentares”, aponta a empreendedora.
Segundo Ana, hoje, a empresa conquistou a confiança dos clientes e está consolidada
no mercado, mas, por conta de erros do passado, ainda possui um fluxo de caixa baixo.
Para ela, a principal lição aprendida neste início da trajetória como empreendedora
está na importância de buscar conhecimento sobre empreendedorismo e mercado,
além de finanças e gestão.
“Aprendi a importância de fazer um plano de negócio depois de ter quebrado.
Focamos muito nos processos, nas boas práticas, mas a empresa não é só baseada
nisso”, confessa.
Segundo Ana, as consultorias do Programa Brasil Mais, prestadas por um agente local
de inovação (ALI) do Sebrae/PR, têm ajudado a estruturar a área comercial da
empresa, que acaba de lançar um e-commerce.
Para ela, o prêmio representa o reconhecimento de uma trajetória empreendedora de
muitas dificuldades, mas de realização pessoal e profissional.
Da cidade para o campo
Vencedora na categoria Produtora Rural, Lucélia Aparecida da Costa, de Jaboti, no
norte pioneiro do Paraná, também deu uma guinada na vida profissional para
empreender e retornar às origens. Ela morava em Curitiba, com o marido, quando
comprou, em 2009, um sítio na sua cidade natal. Com aproximadamente 12 hectares,
na época, a atividade principal era o cultivo do café e o casal viajava a cada 15 dias
para cuidar da plantação.
Durante a pandemia, o esposo perdeu o emprego e os dois decidiram voltar de vez
para o interior do Estado. Foi aí que começaram a se dedicar ao cultivo do morango,
ainda sem nenhuma experiência com a fruta. Eles buscaram conhecimento e fizeram
cursos de capacitação, com o apoio do Sebrae/PR. Logo, os resultados começaram a
aparecer. Uma das conquistas foi o selo de Indicação Geográfica do Morango (IG), que
os ajudou a inserir o produto no mercado a preços diferenciados e competitivos.
“Acredito que o maior desafio foi provar, para mim mesma, que eu era capaz. O apoio
do Sebrae foi essencial, pois, através dele, adquirimos conhecimentos para aplicar na
propriedade”, afirma.
A produtora diz que, para ter um “negócio a céu aberto”, é preciso muito trabalho e fé.
Ela conta que a premiação estadual lhe deu mais confiança de que está no caminho
certo. Muitos sonhos foram realizados por meio do empreendedorismo, como a
construção de uma nova casa para a família e outra para seus pais. Hoje, o sítio possui
uma produção diversificada, com rastreabilidade, e é a principal fonte de renda da
família e de outras cinco pessoas que o casal emprega.
Protagonismo feminino
O gerente da Regional Norte do Sebrae/PR, Fabrício Bianchi, destaca que cerca de 40%
dos micros e pequenos negócios formalizados no Paraná são geridos por mulheres.
Segundo ele, é importante reconhecer essas histórias e o papel de liderança que elas
exercem, mas também apoiá-las por meio de programas de incentivo ao
empreendedorismo feminino. Uma das ações mais recentes nesta área foi a
inauguração da primeira Sala da Mulher Empreendedora do Paraná, em Londrina.
“É muito gratificante saber que, das nove finalistas do Paraná, duas vencedores são da
nossa região”, comemora o gerente.