A tangerina ponkan de Cerro Azul, na região do Vale do Ribeira, conquistou nesta terça-feira (29) o registro de Indicação Geográfica (IG) do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), na modalidade Indicação de Procedência. A cidade, que em 2023 recebeu o título da Capital Nacional da Ponkan, é responsável por cerca de 10% da produção nacional da fruta.
A IG é concedida a produtos que são característicos de um local de origem, o que é identificado por fatores como reputação, valor intrínseco e identidade própria. A conquista é o resultado de um trabalho que, desde 2021, reuniu mais de 130 produtores da fruta em Cerro Azul. O processo contou com o diagnóstico do Sebrae/PR, a mobilização dos agricultores por meio de etapas técnicas e a parceria com a Prefeitura do município, o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-Paraná) e a Associação Vale da Ponkan.

Ivan Silva Evangelista, consultor do Sebrae/PR, ressalta o trabalho das diferentes instituições em prol dos produtores locais para que a ponkan tenha obtido a sua IG. Segundo ele, desde o diagnóstico do potencial da fruta para conseguir a indicação, foi realizado um esforço coletivo que incluiu a mobilização de quem produz, a confirmação da qualidade do produto e a visibilização da tangerina de Cerro Azul no Brasil e no exterior.
“O trabalho envolveu a realização de estudos técnicos, a organização dos produtores, a implantação de parâmetros de qualidade para a produção da fruta e ações de mercado, que incluem, por exemplo, a participação em feiras nacionais e de destaque internacional, como a Fruit Attraction. Todo este esforço trouxe não só o reconhecimento por meio da Indicação Geográfica, mas o fortalecimento do capital social dos produtores e da economia de Cerro Azul”, afirma o consultor.
Informações do INPI apontam que Cerro Azul é hoje o maior produtor de ponkan do Brasil. Dados do Valor Bruto da Produção (VBP) do Paraná em 2022 mostram que o município colheu 77,6 mil toneladas da fruta em 3,9 mil hectares, o que representa 10% de toda a produção nacional de tangerinas.
Origem
A tangerina ponkan de Cerro Azul é conhecida pelo seu sabor, sendo uma fruta doce e suculenta com uma acidez relativamente baixa. A fruta possui uma coloração mais alaranjada em relação a outras variedades, o que se deve às características do clima e do solo da região. No município, a ponkan é produzida, quase em sua totalidade, sem aplicação de agrotóxicos e por meio da agricultura familiar.
Rafael Cropolato é produtor rural e presidente da Associação Vale da Ponkan. A história com a produção da fruta começou com o seu pai, Laerte Cropolato, que há cerca de 45 anos foi o pioneiro, em parceria com irmãos, a iniciar o cultivo em Cerro Azul. O filho, hoje responsável pela produção da família, conta que a IG é o resultado de um processo de décadas de aprimoramento.
“Aqui na região onde moramos, meu pai foi o primeiro não somente a produzir, mas a comprar um caminhão para o transporte da fruta. No começo, era um trabalho feito sem nenhuma capacidade técnica, mas que aos poucos foi evoluindo e se tornando algo profissional. Hoje, temos uma ponkan doce, bem palatável, com pouca acidez e sem nenhum tipo de mancha causada por pássaros ou insetos”, aponta Cropolato.

Pedro Auler, gerente estadual de pesquisa do IDR-Paraná, também acompanhou o processo de obtenção de IG da ponkan. Para ele, a região de Cerro Azul possui condições muito favoráveis para a produção de uma fruta de qualidade que, com a Indicação, poderá ser mais valorizada no mercado.
“A região possui uma combinação única de solo, clima e relevo que dá à fruta características excepcionais. Assim, o modelo de cultivo por meio da agricultura familiar contribui para um cuidado mais artesanal, o que mantém a qualidade. Com a IG, agora será possível negociar melhores condições de comercialização, expandir o acesso a diferentes mercados e aprimorar a tecnologia de produção da ponkan”, observa Auler.

A ponkan de Cerro Azul é a 7ª IG paranaense concedida em 2025. Neste ano, receberam o selo as broas de centeio de Curitiba, a cracóvia de Prudentópolis, a carne de onça de Curitiba, o café de Mandaguari, o urucum de Paranacity e o queijo colonial do Sudoeste do Paraná.
Economia
Desde o depósito do pedido, em dezembro de 2023, os esforços de diferentes atores resultaram em avanços nos padrões de qualidade, rastreabilidade, estrutura dos produtores (em geral, trabalhando em terrenos de 2 a 3 alqueires). Hoje, dados da Prefeitura de Cerro Azul apontam que a safra da fruta teve um crescimento de 60% em relação ao ano passado, o que representou aproximadamente 25% do PIB (Produto Interno Bruno) do município.
Bruno Henrique Lovato, secretário de Agricultura e Abastecimento de Cerro Azul, ressalta o forte impacto da ponkan para a economia do município. Segundo ele, há uma perspectiva bastante positiva de crescimento da produção da fruta para 2025.
“Neste ano, temos uma safra estimada em aproximadamente 150 mil toneladas de frutas, o que representa um crescimento expressivo em relação ao ano passado, quando chegamos a um valor bruto de produção de R$ 100 milhões. Em 2025, a nossa expectativa é dobrar esse número, uma vez que o preço deste ano teve uma melhora considerável”, pontua Lovato.
Paraná chega a 21 IG
A conquista da ponkan de Cerro Azul fez com que o Paraná alcançasse um número de 21 Indicações Geográficas e empatasse com Minas Gerais como o estado brasileiro com o maior número de IG. Além das sete desse ano, são reconhecidas: mel de Ortigueira; queijos coloniais de Witmarsum; cachaça e aguardente de Morretes; melado de Capanema; cafés especiais do Norte Pioneiro; morango do Norte Pioneiro; vinhos de Bituruna; goiaba de Carlópolis; mel do Oeste do Paraná; barreado do Litoral do Paraná; bala de banana de Antonina; erva-mate de São Matheus; camomila de Mandirituba; uvas finas de Marialva. Há ainda o mel de melato da bracatinga do Planalto Sul do Brasil, Indicação Geográfica concedida a Santa Catarina que envolve municípios do Paraná e do Rio Grande do Sul.
O Estado ainda conta com outros nove produtos depositados e em análise no INPI: cervejas artesanais de Guarapuava; mel de Capanema; pão no bafo de Palmeira; tortas de Carambeí; mel de Prudentópolis; ovinos e caprinos da Cantuquiriguaçu; ginseng de Querência do Norte; café da serra de Apucarana e ostras do Cabaraquara.