De auxiliar em consultório odontológico a sócia de um frigorífico: a trajetória de Jenifer da Costa representa a construção de um sonho ao lado do marido, Clécio da Costa. Juntos, eles enfrentaram os desafios do empreendedorismo e hoje comandam uma empresa que produz cerca de 2,5 toneladas de filés de tilápia por dia em Nova Santa Rosa, no oeste do Paraná.

A virada mais recente veio no dia 18 de junho deste ano, com a conquista da certificação do Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar e de Pequeno Porte (Susaf). O selo garante que os produtos podem ser comercializados em qualquer cidade do Paraná.
“Com a certificação do Susaf, podemos trabalhar de verdade, sem medo, com notas fiscais, contribuir com nosso município e estado. Nosso objetivo é alcançar o máximo de cidades no Paraná e futuramente o Brasil. Sempre quisemos expandir, e agora é trabalhar ainda mais, como fizemos nos últimos 10 anos”, comemora Jenifer da Costa.
Mas, a história empreendedora da família começou muito antes e em um momento de dificuldade.
“Eu era auxiliar de consultório dentário, engravidei. O Clécio, meu esposo e sócio, então me convidou para trabalhar com ele, que vem de uma família de produtores de pescados. Nosso primeiro negócio começou na informalidade, o que acabou gerando problemas a ponto de precisarmos mudar de cidade”, relembra Jenifer.
O recomeço veio em Nova Santa Rosa, município com população estimada em 8.535 habitantes (IBGE 2024). Foi ali que o casal, em 2014, iniciou uma nova pequena empresa, um frigorífico, inaugurado em 2015 — e buscou a inspeção municipal, com o objetivo de regularizar a atividade e deixar para trás qualquer vínculo com a informalidade.
Certificação
A mudança de postura abriu portas para novos horizontes, inclusive o apoio do Sebrae/PR, que passou a acompanhar a empresa para conquistar a tão aguardada certificação do Susaf.
Emerson Durso, consultor do Sebrae/PR que acompanha o casal nesse processo de crescimento, comemora os resultados alcançados até aqui.
“Iniciamos o relacionamento com o Pescados Costa em 2024, dentro do Projeto Tilápias do Oeste, que tem como objetivo impulsionar a piscicultura na região, com foco em sustentabilidade e eficiência. Com eles, trabalhamos a melhoria dos processos, já pensando na adequação ao Susaf. Agora, com o Susaf em mãos, eles estão aptos para comercialização em todo o Paraná”, explica o consultor.

As adequações exigiram uma reorganização completa da operação, incluindo a relação com os produtores parceiros.
“Fizemos um trabalho voltado aos fornecedores de peixes da empresa, principalmente, na questão da sanidade, mostrando como isso impacta diretamente na qualidade do produto final”, completa Durso.
Melhoria nos processos
No início, a produção era quase artesanal. “Éramos em quatro colaboradores, que faziam as duas etapas: começavam com a despesca [transporte dos peixes até a unidade de processamento] e, durante o dia, seguiam na linha de produção. Mas fomos percebendo a demanda por filé de tilápia crescer, contratamos mais pessoas e fomos acompanhando o crescimento gradativo do frigorífico”, relata Jenifer.
Atualmente, após 11 anos de trabalho, o frigorífico conta com 23 colaboradores registrados e outros quatro que atuam exclusivamente na despesca. A produção própria representa cerca de 10% da matéria-prima utilizada, enquanto os outros 90% vêm de 20 produtores parceiros fixos. O volume médio de abate gira entre 6 e 7 toneladas de peixes por dia, o que resulta em aproximadamente 2.500 quilos diários de filés de tilápia.

Um setor em expansão
O crescimento do frigorífico acompanha o ritmo de um setor que segue em expansão no Paraná. Em 2024, o Estado produziu 17,35% a mais que no ano anterior. Foi responsável por 245.115 toneladas de tilápia, o equivalente a 37% da produção nacional, consolidando-se como líder do segmento no Brasil. Só a região Oeste concentra cerca de 85% dessa produção, com mais de 200 mil toneladas anuais, segundo dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR) e do Sebrae/PR.
Dentro desse cenário, a agroindústria do casal se destaca pela forma como tem se estruturado para crescer.
“Hoje, nosso principal objetivo é crescer e fazer com que nosso frigorífico seja reconhecido. Percebemos que é possível. Para evoluirmos, contamos com esse apoio do Sebrae, que já tem garantido mudanças na qualidade do produto que oferecemos e na lucratividade dos filés”, projeta Jenifer.
O filé de tilápia é o carro-chefe. É principalmente com esse corte que o frigorífico gera empregos e contribui para o fortalecimento da cadeia da piscicultura em Nova Santa Rosa, que, de acordo com dados do IDR-PR, é uma das dez cidades responsáveis por 58% da produção estadual. Esse número reflete diretamente na estabilidade econômica local, garantindo renda fixa aos produtores parceiros.
Cleidenilson Campos é um desses profissionais que vivem dos pescados.
“O frigorífico tem sido fundamental, porque garante melhoria no carregamento de peixe, segurança na organização dos carregamentos e as datas corretas dos carregamentos. Por exemplo, sabemos que em determinada época o frigorífico estará preparado para receber nossa produção, isso gera confiança ao produtor, na verdade é uma via de duas mãos: o frigorífico tem um produto de qualidade e o produtor a confiança na lucratividade”, atesta Cleidenilson.
Hoje, o reconhecimento da qualidade do peixe produzido e armazenado no Pescados Costa é consolidado no momento de que até clientes de outros estados procuram a empresa.
“Agora, vamos poder vender para todo o estado do Paraná, recebemos aqui na nossa porta, compradores do Mato Grosso do Sul, São Paulo. Isso é uma espécie de confirmação para gente, saber que todo o esforço ao longo dos últimos anos está valendo a pena”, finaliza a empreendedora Jenifer.
-